quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Comércio Tradicional: Ainda perdurará na cultura portuguesa?




Fotos: Paulo Sampaio Neves

Digam com franqueza... já viram algum espectáculo de cor numa mercearia/frutaria/loja de bairro portuguesa como o que se apresenta acima?
Pois é...
A primeira foto é de uma banca de doces, gomas e afins.
A segunda é de uma banca de frutos secos.
A terceira claramente se vê que é de frutas e verduras.
Apetece comprar não é?
Infelizmente Portugal criou um novo modelo de negócio para exportação: Centros Comerciais enormes.
São inequívocas as vantagens de um Centro Comercial, quer para os lojistas quer para os utentes.
Mas porque razão não há já lugar para o comércio tradicional?
Estou em crer que é mais uma questão de cultura do que de economia, ou política.
Ouvi há dias na SIC Notícias que, por dia, em Portugal, fecham cerca de 30 a 40 lojas do denominado comércio tradicional, gerando um desemprego silencioso.
Desconheço a fonte dos números, pelo que a notícia vale o que vale, e não é muito.
Contudo, pouco a pouco vamo-nos apercebendo de que há um maior número de lojas que começa a aparecer com cartazes com as menções "Trespassa-se" ou simplesmente "Passa-se", e ainda "Vende-se".
É insofismável que as grandes superfícies, porque têm também grandes armazéns, conseguem "esmagar" as margens dos preços a que compram, chegando mesmo a praticar preços de retalho inferiores aos que o pequeno comércio consegue comprar junto do grossista.
E isto pesa, como é óbvio.
Mas pesa também a cultura portuguesa. A de quem compra e a de quem vende.
Portugal é certamente um dos países onde o pequeno comércio menos atenção dá ao cliente (excepção feita a certas lojas que vendem lâmpadas na Avenida Almirante Reis, já objecto de post anterior).
A regra é mal-servir. Por isso o Livro de Reclamações é um sucesso da literatura em Portugal. Esgota-se exemplar atrás de exemplar.
A regra é também esquecer que "os olhos também comem" pelo que a apresentação/exposição dos artigos para venda, principalmente de frutas e legumes, é, para não dizer mais, extremamente lamentável.
E assim, o pequeno comerciante vai-se queixando da vida, roubando nos impostos ao não registar tudo o que vende e - pasme-se - fechando bem cedo, para ir para casa, e fechando aos fins-de-semana.
Ora... certamente sabem que as grandes superfícies estão legalmente proibidas de estar abertas ao Domingo. E qual a razão de ser desta legislação? Proteger o pequeno comércio.
E encontramos pequenas lojas abertas ao Domingo? Está claro que não.
Tem lógica, não tem?
Os grandes beneficiários do fecho dos hipermercados, são os supermercados. Estranhamente, ou talvez não, pertencem ao mesmo grupo de empresas dos hipermercados: Modelo-Continente, Feira Nova-Pingo Doce, El Corte Inglès-SuperCor, etc.
E onde está o pequeno comerciante? Na bola. Ou em casa, a dormir. A conviver com a família, que também tem direito.
Pois...
Entretanto o seu negócio vai morrendo. Ou dando lugar a lojas do Euro (os trezentos já lá vão), de imigrantes ou portugueses (sem qualquer conotação nacionalista).
E lanço aqui o desafio... uma espécie de sondagem, vá...:
- Você não gostaria de ter uma loja de bairro que vendesse fruta, pão quente, legumes, vinho (de qualidade e do outro), queijos de várias qualidades, charcutaria e congelados (peixe fresco é mais difícil), mercearia diversa (pastelaria, produtos de higiene e limpeza do lar, cosméticos, etc.), tudo com uma apresentação excelente, com um atendimento personalizado, ainda que praticasse preços um pouco mais elevados?
O quê??? Disse SIM??? Não acredito...!!!!
Não venha com tretas.
Você gosta mesmo é de andar a passear ao fim de semana no Centro Comercial, por isso, só tem o que merece.
Para os que responderam SIM com sinceridade à pergunta, lamento. Não temos. O Sistema Não Permite.

Sem comentários: